como aniquilar uma cultura
The whole pompous edifice of this supremely ridiculous industry, set up to grab bucks by conning youth and encouraging fantasies of a puissant “youth culture” would collapse the careers of the hyped talentless nonentities who breed off of it.
A última vez em que ouvi, voluntariamente, uma rádio "offline" foi quando a Fluminense FM voltou ao dial. Parecia uma máquina do tempo, programada para retornar aos anos 80: Rush, Barão Vermelho, algumas bandas novas, claro, e o mesmo chiado dos velhos tempos, com a diferença de que agora não havia locutor para anunciar o que era tocado. Desliguei o aparelho e voltei correndo para o micro, onde escapo do jabá, dos intermináveis anúncios e dos tapa-buracos de programação (i.e. flashbacks) das “rádios rock” (desse mal a Maldita não sofre, sobrevive sem essas trucagens).
A Live365 é uma das minhas preferidas, assim como também não deixo de passar pela Usina do Som. Foi na Live que ouvi primeiro Boards of Canada, e a Usina transmite o Dado e o Reino Animal. Se cortassem minhas rádios na internet, eu não ia ficar chateada. Eu ia ficar P***.
A Kigs é a "primeira rádio portuguesa na internet dos Estados Unidos", de acordo com seu website. Desde o dia 20 de fevereiro suas transmissões foram interrompidas graças a uma decisão do CARP - Copyright Arbitration Royalty Panel, um comitê formado por três pessoas nomeadas pelo Copyright Office, departamento responsável por direitos autorais nos Estados Unidos. Naquela data, o comitê impôs como condição para a transmissão de música pela internet o pagamento de uma taxa. A história remonta a outubro de 1988, quando o congresso norte-americano liberou o Digital Millenium Copyright Act (DMCA). O DMCA estabelecia que toda transmissão de música pela web estaria sujeita à cobrança de direitos autorais por execução às gravadoras, o que aproxima o caráter da webradio das rádios “offline”. De início, isso impõe limites à escolha da programação online: nenhuma rádio online pode tocar mais que três canções de um mesmo CD ou mais de quatro canções de um mesmo artista em um período de três horas. É por isso que o internauta não consegue tocar novamente uma mesma faixa duas vezes seguidas, por exemplo. O DMCA tornou necessária a indicação de um comitê incumbido de decidir o valor a ser pago pelas rádios online; foi criado, então, o CARP.
Esperava-se, de início, que as taxas estabelecidas pelo CARP se baseassem na porcentagem de lucro de cada rádio, um valor entre os 15% que as rádios web pagam a RIAA – Recording Industry Association of America – e os 3% oferecidos na negociação pelas próprias rádios. Foi aí que a coisa ficou realmente feia. O CARP tinha em mente uma taxa muito maior do que os webcasters podiam imaginar, o que criou uma ameaça real para suas rádios. Como permanecer no ar se as taxas que deverão pagar superam seu lucro?
"Até recebermos uma definição dos nossos advogados, não iremos transmitir o nosso sinal na Internet," explica uma mensagem no site da KIGS. "Nossa decisão final será baseada na taxa de pagamento que teremos que pagar." A taxa exigida seria de 350 por cento mais do que a rádio pagava às sociedades de licença da música.
No próximo dia 21 de Maio, o Copyright Office deverá, por requerimento do congresso norte-americano, anunciar se aprova ou não a recomendação do comitê sobre a taxa que, como explicaram os portugas, é de lascar de alta. Rádios online de pequeno porte como a KIGS não são as únicas ameaçadas pelo CARP. O raio de ação da medida é bem mais amplo, como explica por e-mail Derek McNeill, organizador de um já extenso abaixo-assinado contra o valor determinado pelo CARP: "É preciso que informemos nossos representantes eleitos (n.r.: por que essa frase soa tão engraçada para um brasileiro?) sobre o efeito que a decisão do CARP pode ter sobe a indústria de rádios online. Eles precisam perceber que a lei do CARP quebraria e fecharia essas rádios."
Para a RIAA – Recording Industry Association of America, as reivindicações de Derek e das centenas de pessoas que assinam sua petição não passam de um exagero. Da seção do site da RIAA criada especialmente para esclarecer o internauta acerca do CARP: "Nas últimas semanas, o CARP tem sido alvo de uma campanha de intensa desinformação (supostamente desencadeada por gente "do meio" mas, na verdade, criada por lobistas sofisticados de Washington D.C.) erguida através da mídia noticiosa, e-mails ao Capitólio e numerosos sites na internet. Seu objetivo é assustar as rádios não-comerciais – incluindo as college radios e quem transmite "por hobby" – e seus representantes no congresso para que pensem que o CARP irá tirar as rádios não-comerciais do mercado." Para quem acredita que é tudo uma conspiração de lobistas para enganar rádios universitárias e gente desocupada que transmite música pela internet, a RIAA se explica até demais. Sem sair da defensiva, tenta um discurso camarada: "Ao contrário do que vem sendo divulgado nos noticiários e circulado pela internet, a RIAA e todos os seus membros queremos que TODAS as rádios online, grandes e pequenas, sejam bem sucedidas."
É difícil para um negócio que ainda se expande intuitivamente sobreviver a um golpe desses, no entanto. A RIAA afirma que as taxas não vão tirar todos os webcasters do ar. E é verdade. Mas vão puxar o tapete de quem não lucra o suficiente para cobrir o que será cobrado para liberar as transmissões. O SaveInternetRadio.org explica a matemática sinistra do CARP: uma rádio ouvida – o tempo todo – por uma única pessoa, teria de pagar 14 centavos de dólar por canção executada. Supondo que toque 15 músicas por hora, pagaria: $.0014 x 15 x 24 x 365 = $184 anuais. Se a rádio conseguir 100 ouvintes, pagará US$ 18.400. Ao final de três anos, o carinha que começou uma rádio na internet de bobeira terá que pagar US$55,200.
O site responsável por esse exemplo é a maior central de informação na web sobre o assunto, reunindo links para artigos que o RIAA qualifica como enganosos, cartas enviadas ao congresso e fóruns que discutem desde como influenciar os políticos sobre a questão até o que fazer se as taxas forem aprovadas.
A RIAA favorece o CARP com a mesma convicção com que se manifesta contra softwares de troca de arquivos MP3 pela internet. Os filhotes do Napster continuam alimentando a cultura que surgiu em torno do original e expandindo sua gama de usuários apesar de toda a indústria espernear.
"A internet é a maneira mais barata de se fazer rádio. Começar uma rádio tradicional pode custar milhões. Nos Estados Unidos, um grupo de empresas domina a maior parte das estações de rádio. Com a web, é possível nivelar o jogo. Qualquer um pode criar um programa tão bom ou melhor que o de uma rádio corporativa," explica Derek, o do abaixo-assinado, ele mesmo DJ de uma rádio online, a Dublab.com. "Se eu fosse músico e não conseguisse fazer minha canção tocar no rádio, eu provavelmente recorreria à internet para ser ouvido. Se alguém escuta sua música numa webradio, pode descobrir o que está ouvindo e então clicar para comprar."
As pequenas rádios de música online são o tipo de clique-e-compre difícil de controlar. A solução mais simples, então, é eliminá-las, o que o CARP pode conseguir no dia 21 de maio, caso o Copyright Office aceite suas regras. Para quê todo esse trabalho? A banda independente que toca na mesma rádio de seu artista contratado, e oferece seu produto pela internet sem pagar tributo como pagam (e caro) seus artistas, sem movimentação de jabá, sem burilação pela mídia, é um indicativo de novas tendências ainda não rastreadas e arquivadas. Essas tendências VENDEM sem que nenhum centavo do dinheiro voe para o seu bolso das majors e é precisamente esta a ofensa causada pelas rádios online à indústria.
O grito de “queromeu!” do RIAA não é uma mera cruzada contra webradios ou, em outra instância, contra um software. É uma guerra para aniquilar a cultura que fermenta sem o seu intermédio e cresce livremente em torno dos remixes combinados, de softwares de busca e troca de arquivos mp3, das próprias webradios. E a sua ofensiva é uma boa amostra do que são capazes os dono$ da bola para não deixar acontecer a possibilidade descrita na citação que abre a coluna.
A idéia por trás do CARP é acuar e destruir. Restarão duas opções, se é que podemos chamá-las assim, para rádios de médio e grande porte: virar canal de downloads de gravadoras, como aconteceu com o Clear Channel na semana passada (e para isso é preciso que tenham ouvintes suficientes para atrair patrocínio) ou sair do ar, como a KIGS. Quem não se transformar em serviço por assinatura vinculado a alguma gravadora não conseguirá se manter.
O saldo final da política do CARP, caso seja adotada, será um panorama de rádios online cada vez mais parecidas com as rádios tradicionais, com todos os vícios desta, o que, por si só, já é assustador. No mais, é uma maneira bastante eficaz de desperdiçar todas as possibilidades que uma nova mídia pode oferecer para revitalizar a idéia de rádio livre.
"O rapaz não tem voz, não sabe cantar, o repertório é medíocre e os arranjos idem. Mesmo assim, Mário Velloso, que estréia no CD que leva seu nome, é uma das principais apostas da Sony para 2002 - aposta não pela música, mas pela popularidade que a gravadora achava que ele iria conseguir no programa ‘Casa dos Artistas 2’. E depois a indústria do disco reclama do buraco em que está." - Antônio Carlos Miguel, O Globo.
A alfinetada é pertinente. Alguém pode objetar? É tão óbvia a falta de talento do rapaz que deveria tornar essa crítica um lugar comum. O comentário no caderno cultural do Globo não é inusitado no que se refere ao ex-morador da CdA. Mas e quanto ao alvo em que o tiro do jornalista pegou de raspão? É um alvo graúdo, dificil de ignorar. Haveria hoje marios vellosos e tantas outras excrescências a granel por culpa exclusiva da joselitice (s. f. do gr. joselitus + lat. parvitate: falta de noção, parvoice) do mercado, inclusos aí público e executivos de gravadora cujo sentido auditivo imaginamos, entre irônicos e alarmados, incapaz de captar qualquer som diferente do ca$hing!? É tarde para avisar aos caras que essas bolhas de sabão em que botam tanta grana duram dois segundos no ar? Cada crítico que exerce sua função, independente do anunciante que ocupa o retângulo abaixo dela, contribui para dar esse recado.
Como chegamos ao tal buraco a que se refere ACM? Foi por falta de revistas especializadas (temos a recém-lançada Frente, do ex-Showbizz Emerson Gasperin), de espaço pra discussão?
Focando no Brasil: a onde recorremos para suprir a pobreza do mercado editorial aqui? Nenhuma pólvora a ser descoberta na constatação: à internet. Desde 1996/97, os rumos da indústria fonogáfica são reconfigurados e discutidos no centro nervoso da incurável enxaqueca Napster, que tira o sono de uma indústria que, até o surgimento da praga de trocas de mp3 gerada pelo garotão Shawn Fanning (e de substitutos similares, e até melhores, desenvolvidos por outros garotões - fácil como soltar um espirro, propagados `velocidade de epidemias viróticas), escolhia ignorar totalmente o que fermentava em fóruns virtuais, listas de discussão e e-zines, além dos braços online de publicações estrangeiras que também chegavam ao consumidor voraz de informação – de graça – oferecendo seus próprios forúns e conferências. A rede movimentava opinião, voz sem censura nem obrigações para com anunciantes. O sujeito passivão do clichê irreal "o público gosta do que a gente dá pra ele, seja o que for" tinha opinião, que expressava trocando mensagens sobre novos sons, mp3 (de graça, claro), dicas que atraíam cada dia novos adeptos desse mundo paralelo.
O mundo paralelo comeu pelas beiradas, aquela dorzinha de cabeça era um tumor. Era gente pensando quando se acreditava que gente não pensava; só comprava. Não compra, baixa mp3 e faz CDR; e uma grande parte do que se chama de público segmentado e que era um número insignificante, bem, não é tão insignificante assim.
The whole pompous edifice of this supremely ridiculous industry, set up to grab bucks by conning youth and encouraging fantasies of a puissant “youth culture” would collapse the careers of the hyped talentless nonentities who breed off of it.
A última vez em que ouvi, voluntariamente, uma rádio "offline" foi quando a Fluminense FM voltou ao dial. Parecia uma máquina do tempo, programada para retornar aos anos 80: Rush, Barão Vermelho, algumas bandas novas, claro, e o mesmo chiado dos velhos tempos, com a diferença de que agora não havia locutor para anunciar o que era tocado. Desliguei o aparelho e voltei correndo para o micro, onde escapo do jabá, dos intermináveis anúncios e dos tapa-buracos de programação (i.e. flashbacks) das “rádios rock” (desse mal a Maldita não sofre, sobrevive sem essas trucagens).
A Live365 é uma das minhas preferidas, assim como também não deixo de passar pela Usina do Som. Foi na Live que ouvi primeiro Boards of Canada, e a Usina transmite o Dado e o Reino Animal. Se cortassem minhas rádios na internet, eu não ia ficar chateada. Eu ia ficar P***.
A Kigs é a "primeira rádio portuguesa na internet dos Estados Unidos", de acordo com seu website. Desde o dia 20 de fevereiro suas transmissões foram interrompidas graças a uma decisão do CARP - Copyright Arbitration Royalty Panel, um comitê formado por três pessoas nomeadas pelo Copyright Office, departamento responsável por direitos autorais nos Estados Unidos. Naquela data, o comitê impôs como condição para a transmissão de música pela internet o pagamento de uma taxa. A história remonta a outubro de 1988, quando o congresso norte-americano liberou o Digital Millenium Copyright Act (DMCA). O DMCA estabelecia que toda transmissão de música pela web estaria sujeita à cobrança de direitos autorais por execução às gravadoras, o que aproxima o caráter da webradio das rádios “offline”. De início, isso impõe limites à escolha da programação online: nenhuma rádio online pode tocar mais que três canções de um mesmo CD ou mais de quatro canções de um mesmo artista em um período de três horas. É por isso que o internauta não consegue tocar novamente uma mesma faixa duas vezes seguidas, por exemplo. O DMCA tornou necessária a indicação de um comitê incumbido de decidir o valor a ser pago pelas rádios online; foi criado, então, o CARP.
Esperava-se, de início, que as taxas estabelecidas pelo CARP se baseassem na porcentagem de lucro de cada rádio, um valor entre os 15% que as rádios web pagam a RIAA – Recording Industry Association of America – e os 3% oferecidos na negociação pelas próprias rádios. Foi aí que a coisa ficou realmente feia. O CARP tinha em mente uma taxa muito maior do que os webcasters podiam imaginar, o que criou uma ameaça real para suas rádios. Como permanecer no ar se as taxas que deverão pagar superam seu lucro?
"Até recebermos uma definição dos nossos advogados, não iremos transmitir o nosso sinal na Internet," explica uma mensagem no site da KIGS. "Nossa decisão final será baseada na taxa de pagamento que teremos que pagar." A taxa exigida seria de 350 por cento mais do que a rádio pagava às sociedades de licença da música.
No próximo dia 21 de Maio, o Copyright Office deverá, por requerimento do congresso norte-americano, anunciar se aprova ou não a recomendação do comitê sobre a taxa que, como explicaram os portugas, é de lascar de alta. Rádios online de pequeno porte como a KIGS não são as únicas ameaçadas pelo CARP. O raio de ação da medida é bem mais amplo, como explica por e-mail Derek McNeill, organizador de um já extenso abaixo-assinado contra o valor determinado pelo CARP: "É preciso que informemos nossos representantes eleitos (n.r.: por que essa frase soa tão engraçada para um brasileiro?) sobre o efeito que a decisão do CARP pode ter sobe a indústria de rádios online. Eles precisam perceber que a lei do CARP quebraria e fecharia essas rádios."
Para a RIAA – Recording Industry Association of America, as reivindicações de Derek e das centenas de pessoas que assinam sua petição não passam de um exagero. Da seção do site da RIAA criada especialmente para esclarecer o internauta acerca do CARP: "Nas últimas semanas, o CARP tem sido alvo de uma campanha de intensa desinformação (supostamente desencadeada por gente "do meio" mas, na verdade, criada por lobistas sofisticados de Washington D.C.) erguida através da mídia noticiosa, e-mails ao Capitólio e numerosos sites na internet. Seu objetivo é assustar as rádios não-comerciais – incluindo as college radios e quem transmite "por hobby" – e seus representantes no congresso para que pensem que o CARP irá tirar as rádios não-comerciais do mercado." Para quem acredita que é tudo uma conspiração de lobistas para enganar rádios universitárias e gente desocupada que transmite música pela internet, a RIAA se explica até demais. Sem sair da defensiva, tenta um discurso camarada: "Ao contrário do que vem sendo divulgado nos noticiários e circulado pela internet, a RIAA e todos os seus membros queremos que TODAS as rádios online, grandes e pequenas, sejam bem sucedidas."
É difícil para um negócio que ainda se expande intuitivamente sobreviver a um golpe desses, no entanto. A RIAA afirma que as taxas não vão tirar todos os webcasters do ar. E é verdade. Mas vão puxar o tapete de quem não lucra o suficiente para cobrir o que será cobrado para liberar as transmissões. O SaveInternetRadio.org explica a matemática sinistra do CARP: uma rádio ouvida – o tempo todo – por uma única pessoa, teria de pagar 14 centavos de dólar por canção executada. Supondo que toque 15 músicas por hora, pagaria: $.0014 x 15 x 24 x 365 = $184 anuais. Se a rádio conseguir 100 ouvintes, pagará US$ 18.400. Ao final de três anos, o carinha que começou uma rádio na internet de bobeira terá que pagar US$55,200.
O site responsável por esse exemplo é a maior central de informação na web sobre o assunto, reunindo links para artigos que o RIAA qualifica como enganosos, cartas enviadas ao congresso e fóruns que discutem desde como influenciar os políticos sobre a questão até o que fazer se as taxas forem aprovadas.
A RIAA favorece o CARP com a mesma convicção com que se manifesta contra softwares de troca de arquivos MP3 pela internet. Os filhotes do Napster continuam alimentando a cultura que surgiu em torno do original e expandindo sua gama de usuários apesar de toda a indústria espernear.
"A internet é a maneira mais barata de se fazer rádio. Começar uma rádio tradicional pode custar milhões. Nos Estados Unidos, um grupo de empresas domina a maior parte das estações de rádio. Com a web, é possível nivelar o jogo. Qualquer um pode criar um programa tão bom ou melhor que o de uma rádio corporativa," explica Derek, o do abaixo-assinado, ele mesmo DJ de uma rádio online, a Dublab.com. "Se eu fosse músico e não conseguisse fazer minha canção tocar no rádio, eu provavelmente recorreria à internet para ser ouvido. Se alguém escuta sua música numa webradio, pode descobrir o que está ouvindo e então clicar para comprar."
As pequenas rádios de música online são o tipo de clique-e-compre difícil de controlar. A solução mais simples, então, é eliminá-las, o que o CARP pode conseguir no dia 21 de maio, caso o Copyright Office aceite suas regras. Para quê todo esse trabalho? A banda independente que toca na mesma rádio de seu artista contratado, e oferece seu produto pela internet sem pagar tributo como pagam (e caro) seus artistas, sem movimentação de jabá, sem burilação pela mídia, é um indicativo de novas tendências ainda não rastreadas e arquivadas. Essas tendências VENDEM sem que nenhum centavo do dinheiro voe para o seu bolso das majors e é precisamente esta a ofensa causada pelas rádios online à indústria.
O grito de “queromeu!” do RIAA não é uma mera cruzada contra webradios ou, em outra instância, contra um software. É uma guerra para aniquilar a cultura que fermenta sem o seu intermédio e cresce livremente em torno dos remixes combinados, de softwares de busca e troca de arquivos mp3, das próprias webradios. E a sua ofensiva é uma boa amostra do que são capazes os dono$ da bola para não deixar acontecer a possibilidade descrita na citação que abre a coluna.
A idéia por trás do CARP é acuar e destruir. Restarão duas opções, se é que podemos chamá-las assim, para rádios de médio e grande porte: virar canal de downloads de gravadoras, como aconteceu com o Clear Channel na semana passada (e para isso é preciso que tenham ouvintes suficientes para atrair patrocínio) ou sair do ar, como a KIGS. Quem não se transformar em serviço por assinatura vinculado a alguma gravadora não conseguirá se manter.
O saldo final da política do CARP, caso seja adotada, será um panorama de rádios online cada vez mais parecidas com as rádios tradicionais, com todos os vícios desta, o que, por si só, já é assustador. No mais, é uma maneira bastante eficaz de desperdiçar todas as possibilidades que uma nova mídia pode oferecer para revitalizar a idéia de rádio livre.
"O rapaz não tem voz, não sabe cantar, o repertório é medíocre e os arranjos idem. Mesmo assim, Mário Velloso, que estréia no CD que leva seu nome, é uma das principais apostas da Sony para 2002 - aposta não pela música, mas pela popularidade que a gravadora achava que ele iria conseguir no programa ‘Casa dos Artistas 2’. E depois a indústria do disco reclama do buraco em que está." - Antônio Carlos Miguel, O Globo.
A alfinetada é pertinente. Alguém pode objetar? É tão óbvia a falta de talento do rapaz que deveria tornar essa crítica um lugar comum. O comentário no caderno cultural do Globo não é inusitado no que se refere ao ex-morador da CdA. Mas e quanto ao alvo em que o tiro do jornalista pegou de raspão? É um alvo graúdo, dificil de ignorar. Haveria hoje marios vellosos e tantas outras excrescências a granel por culpa exclusiva da joselitice (s. f. do gr. joselitus + lat. parvitate: falta de noção, parvoice) do mercado, inclusos aí público e executivos de gravadora cujo sentido auditivo imaginamos, entre irônicos e alarmados, incapaz de captar qualquer som diferente do ca$hing!? É tarde para avisar aos caras que essas bolhas de sabão em que botam tanta grana duram dois segundos no ar? Cada crítico que exerce sua função, independente do anunciante que ocupa o retângulo abaixo dela, contribui para dar esse recado.
Como chegamos ao tal buraco a que se refere ACM? Foi por falta de revistas especializadas (temos a recém-lançada Frente, do ex-Showbizz Emerson Gasperin), de espaço pra discussão?
Focando no Brasil: a onde recorremos para suprir a pobreza do mercado editorial aqui? Nenhuma pólvora a ser descoberta na constatação: à internet. Desde 1996/97, os rumos da indústria fonogáfica são reconfigurados e discutidos no centro nervoso da incurável enxaqueca Napster, que tira o sono de uma indústria que, até o surgimento da praga de trocas de mp3 gerada pelo garotão Shawn Fanning (e de substitutos similares, e até melhores, desenvolvidos por outros garotões - fácil como soltar um espirro, propagados `velocidade de epidemias viróticas), escolhia ignorar totalmente o que fermentava em fóruns virtuais, listas de discussão e e-zines, além dos braços online de publicações estrangeiras que também chegavam ao consumidor voraz de informação – de graça – oferecendo seus próprios forúns e conferências. A rede movimentava opinião, voz sem censura nem obrigações para com anunciantes. O sujeito passivão do clichê irreal "o público gosta do que a gente dá pra ele, seja o que for" tinha opinião, que expressava trocando mensagens sobre novos sons, mp3 (de graça, claro), dicas que atraíam cada dia novos adeptos desse mundo paralelo.
O mundo paralelo comeu pelas beiradas, aquela dorzinha de cabeça era um tumor. Era gente pensando quando se acreditava que gente não pensava; só comprava. Não compra, baixa mp3 e faz CDR; e uma grande parte do que se chama de público segmentado e que era um número insignificante, bem, não é tão insignificante assim.