7.5.01

De cadência bonita

Leiam mais abaixo um texto do Mojo sobre a parcela de weblogs e mailings literários (contos, poesia e confissões via e-mail) que não se manca quando produz um texto que é, na melhor das hipóteses, ordinário e em último caso uma porcaria deslavada que podia ter sido escrita por um guri de treze anos pouquinha coisa menos fã de Charlie Brown Jr. Ultra-neo-romantismo de boteco, a maioria não sabe nem ser niilista, acham que é beber um uisquinho e ouvir música de fossa, de Belle & Sebastian a Maysa, e tá lá o niilista de início de século, incluído no crachá o tchan do computador, era da informática, esse 171 da solidão e fascinação tecnológica todo. Num dá, é demais pra minha cabecinha que a maioria dos escritores de Internet ou pop ou não sei como tão se chamando esta semana se proponham um movimento ou sejam assim chamados pelos cadernos culturais. E sejam acusados pelos jornalistas nas entrelinhas de serem rasos, de gostarem de filmes rasos, de literatura rasa... e não percebam essas entrelinhas nas matérias! Acreditem no elogio e acreditem tanto no próprio taco que não se permitam a auto-crítica. Querem chamar de movimento literário? Beleza. Então vai ser o primeiro movimento literário incapaz de pensar a si mesmo e, na esteira dessa impossibilidade, incapaz de entender com quais outros movimentos dialoga ou deixa de dialogar. É pedir muito que se faça uma auto-crítica? A resposta à minha proposição de auto-crítica (que não deram a mim diretamente) foi que é pedir muito sim, porque a auto-avaliação é apenas um entrave, um contratempo que só serviria para atrasar o movimento e tolher a criatividade dos novos escritores. Já mandou um e-mail, no calor de uma discussão qualquer, de uma situação que você quisesse resolver de imediato, e se arrependeu de tê-lo enviado imediatamente depois? Imagine uma literatura que é feita exatamente como estes e-mails que enviamos assim, sem pensar direito no que estamos escrevendo ou em que queremos com aquilo, nas conseqüências, nas condições em que é escrito, no que levou a escrevê-lo? É esta a identidade do que, por falta de nome melhor, ainda chamamos literatura de Internet, é assim a maior parte dos textos que se abrigam sob a denominação. E, assim, assumi que já essa produção pode ser chamada de escritos de Internet, como se já fosse realmente um movimento.

Como é que essa discussão começou? Há uma semana, propus a uma fatia (onde havia gente que escreve bem e gente que nunca devia ter passado do bilhete na porta da geladeira) desses escritores que se avaliassem, que lessem as entrelinhas dessas matérias publicadas sobre seus textos nos jornais e na própria Internet e pensassem um pouco o movimento que os acusam de terem começado.

Eu acho decadência chamar de literatura o Paulo Coelho tanto quanto qualquer texto pueril do www.blogger.com (já engrossei muito esse caldo, eu mesma) ou Geocities, obra sem reflexão ou incapaz de causar provocação, que mexa com a cabeça de alguém. É a mesma decadência que coloca Cumpadi Washington na categoria de cantor, ou comédias românticas de dinâmica televisiva como avanço cinematográfico do cinema nacional. Quando falo de decadentismo não tô dizendo que todo mundo é ruim até o talo, que não tem jeito, que essa gente não tem talento. Tô dizendo que há talentos e que eles são mal explorados, ficam em mera potência justamente por se recusarem a fazer uma revisão do que lêem, do que escrevem e do que produzem, recusam-se a ser mais do que são.

O grupo não respondeu diretamente a mim sobre a proposta de auto-crítica. Como resposta enviesada à minha proposição, rolaram e-mails vagos à lista de discussão (onde há de tudo menos discussão propriamente dita, todo mundo tem medo de discutir qualquer coisa remotamente séria, falemos só de amores pré-adolescentes não-correspondidos então, werthers fãs de seriados do Sony). Na autocrítica me incluo, me insiro. Passo o link pra minha página na web onde reproduzi o texto do Daniel Mojo Pellizari (www.cardosonline.com.br) sobre o mesmo assunto. Não sei se ele soube da discussão em que eu me meti ou tentei causar e não consegui, mas a idéia é a mesma e está no texto dele. Tô anos luz atrás dos textos desse cara ( e aí eu avalio fluência, vocabulário, cadência do texto - e avaliar isso e chegar à conclusão de que ainda não escrevo tão bem não é nenhum problema, é um incentivo) e sei reconhecer isto, o que não me impede de sentir tesão por tentar escrever mais e melhor, pelo contrário, não tolhe minha criatividade, não corta minha onda, fecunda e incentiva, inspira. Falta humildade por aí, concluo. E um pouquinho de simancol também. Sobra oportunismo, vontade de fama, fama como na Quem, na Caras. Se eu não conseguir escrever nada de que eu me orgulhe, pelo menos eu quero me fazer de placa, de luminoso gritando "atenção".

De cadência bonita

Leiam mais abaixo um texto do Mojo sobre a parcela de weblogs e mailings literários (contos, poesia e confissões via e-mail) que não se manca quando produz um texto que é, na melhor das hipóteses, ordinário e em último caso uma porcaria deslavada que podia ter sido escrita por um guri de treze anos pouquinha coisa menos fã de Charlie Brown Jr. Ultra-neo-romantismo de boteco, a maioria não sabe nem ser niilista, acham que é beber um uisquinho e ouvir música de fossa, de Belle & Sebastian a Maysa, e tá lá o niilista de início de século, incluído no crachá o tchan do computador, era da informática, esse 171 da solidão e fascinação tecnológica todo. Num dá, é demais pra minha cabecinha que a maioria dos escritores de Internet ou pop ou não sei como tão se chamando esta semana se proponham um movimento ou sejam assim chamados pelos cadernos culturais. E sejam acusados pelos jornalistas nas entrelinhas de serem rasos, de gostarem de filmes rasos, de literatura rasa... e não percebam essas entrelinhas nas matérias! Acreditem no elogio e acreditem tanto no próprio taco que não se permitam a auto-crítica. Querem chamar de movimento literário? Beleza. Então vai ser o primeiro movimento literário incapaz de pensar a si mesmo e, na esteira dessa impossibilidade, incapaz de entender com quais outros movimentos dialoga ou deixa de dialogar. É pedir muito que se faça uma auto-crítica? A resposta à minha proposição de auto-crítica (que não deram a mim diretamente) foi que é pedir muito sim, porque a auto-avaliação é apenas um entrave, um contratempo que só serviria para atrasar o movimento e tolher a criatividade dos novos escritores. Já mandou um e-mail, no calor de uma discussão qualquer, de uma situação que você quisesse resolver de imediato, e se arrependeu de tê-lo enviado imediatamente depois? Imagine uma literatura que é feita exatamente como estes e-mails que enviamos assim, sem pensar direito no que estamos escrevendo ou em que queremos com aquilo, nas conseqüências, nas condições em que é escrito, no que levou a escrevê-lo? É esta a identidade do que, por falta de nome melhor, ainda chamamos literatura de Internet, é assim a maior parte dos textos que se abrigam sob a denominação. E, assim, assumi que já essa produção pode ser chamada de escritos de Internet, como se já fosse realmente um movimento.

Como é que essa discussão começou? Há uma semana, propus a uma fatia (onde havia gente que escreve bem e gente que nunca devia ter passado do bilhete na porta da geladeira) desses escritores que se avaliassem, que lessem as entrelinhas dessas matérias publicadas sobre seus textos nos jornais e na própria Internet e pensassem um pouco o movimento que os acusam de terem começado.

Eu acho decadência chamar de literatura o Paulo Coelho tanto quanto qualquer texto pueril do www.blogger.com (já engrossei muito esse caldo, eu mesma) ou Geocities, obra sem reflexão ou incapaz de causar provocação, que mexa com a cabeça de alguém. É a mesma decadência que coloca Cumpadi Washington na categoria de cantor, ou comédias românticas de dinâmica televisiva como avanço cinematográfico do cinema nacional. Quando falo de decadentismo não tô dizendo que todo mundo é ruim até o talo, que não tem jeito, que essa gente não tem talento. Tô dizendo que há talentos e que eles são mal explorados, ficam em mera potência justamente por se recusarem a fazer uma revisão do que lêem, do que escrevem e do que produzem, recusam-se a ser mais do que são.

O grupo não respondeu diretamente a mim sobre a proposta de auto-crítica. Como resposta enviesada à minha proposição, rolaram e-mails vagos à lista de discussão (onde há de tudo menos discussão propriamente dita, todo mundo tem medo de discutir qualquer coisa remotamente séria, falemos só de amores pré-adolescentes não-correspondidos então, werthers fãs de seriados do Sony). Na autocrítica me incluo, me insiro. Passo o link pra minha página na web onde reproduzi o texto do Daniel Mojo Pellizari (www.cardosonline.com.br) sobre o mesmo assunto. Não sei se ele soube da discussão em que eu me meti ou tentei causar e não consegui, mas a idéia é a mesma e está no texto dele. Tô anos luz atrás dos textos desse cara ( e aí eu avalio fluência, vocabulário, cadência do texto - e avaliar isso e chegar à conclusão de que ainda não escrevo tão bem não é nenhum problema, é um incentivo) e sei reconhecer isto, o que não me impede de sentir tesão por tentar escrever mais e melhor, pelo contrário, não tolhe minha criatividade, não corta minha onda, fecunda e incentiva, inspira. Falta humildade por aí, concluo. E um pouquinho de simancol também. Sobra oportunismo, vontade de fama, fama como na Quem, na Caras. Se eu não conseguir escrever nada de que eu me orgulhe, pelo menos eu quero me fazer de placa, de luminoso gritando "atenção".